sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Michel, o Reunificador. Será?

É cedo para comemorar. É preciso aguardar para extrair dos últimos acontecimentos uma conclusão precisa, mas, até agora, devemos reconhecer que, se de fato tiver-se abortado definitivamente o golpe, os méritos serão de Michel Temer.

Nomeado por Dilma para ser o articulador político do governo, sobretudo junto ao Congresso - medida que me pareceu a melhor jogada política da presidenta neste início de segundo mandato -, o vice-presidente veio acumulando derrotas sucessivas e sua frustração era visível, principalmente anteontem, quando, em tom de desolação, fez uma declaração que soou desastrosa ao afirmar que era preciso que "alguém" fosse capaz de "reunificar" o país. Ele se referia a alguém dentro do Congresso, foco da crise política, mas a mídia venal vendeu sua fala como algo que desconsiderasse a importância da figura central da presidenta Dilma. Falou-se até de atestado de óbito do governo, dentre outras maledicências.

O fato é que Eduardo Cunha extrapolou todos os limites e Temer se deu conta de que ele era o oposto da figura reunificadora que procurava. Então, fez a coisa certa. Foi falar com quem manda nesses mais de trezentos achacadores da República. Foi direto a quem financia as campanhas. Foi falar com os patrões, com os senhores da Casa Grande.

Não deve ter sido difícil convencê-los de que a continuar essa permissividade no Congresso, pela ação personalista e irresponsável de Cunha, todos acabariam perdendo. O Brasil precisava de bombeiros e quem dava as cartas era um especialista em pirotecnia.

Sensibilizados pela prosa do vice, os grandes empresários lançaram então o manifesto conjunto das maiores federações industriais do pais, FIESP e FIRJAN. Manifesto que a Globo ainda tentou vender como "de apoio a Michel Temer", permitindo ilações assustadoras que apontavam para o golpe, quando o teor do texto deixava claro que os empresários defendem o respeito à autoridade dos que foram eleitos. Vale dizer, era de apoio a Dilma, na linha do "deixem a mulher trabalhar".

O dia de hoje, porém, amanheceu com o surpreendente editorial d'O Globo, que basicamente reafirma a posição do empresariado. A Globo sentiu o golpe - no sentido inverso ao que vinha estimulando. Afinal, num cenário de incertezas sobre as consequências da destituição de Dilma (TCU) ou de Dilma e Temer (TSE), a sua própria sobrevivência estaria em risco. Não custa lembrar que crise mesmo, econômica, de verdade, quem vive são os meios de comunicação, dos quais os que mais têm a perder são justamente as Organizações Globo. Que foram muito além do mero lampejo de lucidez do editorial de seu veiculo impresso. No Jornal Nacional, deram generoso espaço à presidenta Dilma (que se repetiu no Jornal da Globo) e dedicaram inusitado tempo ao ex-presidente Lula.

Enfim, Temer percebeu que precisava fazer ver a quem manda efetivamente neste pais o quanto tinham a perder com a irresponsabilidade de brincar de golpe. Nada como mexer no bolso para obter resultados esperados.

Pode ser tudo encenação? Pode estar sendo urdido um golpe na surdina? Pode. Mas os sinais até aqui são de que Dilma deve, sim, ter vencido o longo e exaustivo terceiro turno, e os méritos são de Michel Temer.

É pagar para ver.

Um comentário:

  1. Concordo com a análise, mas não tanto com a certeza de que Dilma sai como vencedora. O quadro me parece de acomodação após um novo acordo, cujos termos só conheceremos no futuro. Tenho a nítida impressão de uma capitulação do PT diante da ofensiva contra Lula. Temer apresenta-se como novo Presidente de fato, sob os aplausos de Alckmin e Agripino, marinhos, Trabuco, Scaf e Firjan. Habemus presidente é o que dizem.

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